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O sorriso do Beija-flor
Há um ditado que diz que só existem dois tipos de pessoas. Aquelas que não acreditam em milagres e aquelas que acreditam que todas as coisas são milagres. Eu, pessoalmente, não acredito nem numa coisa nem noutra. Para mim, para ser milagre tem que ser algo extra-ordinário embora os milagres aconteçam mesmo é no “intra-ordinário. Acontece que nós, muitas vezes, não os percebemos. Um milagre não tem começo, nem fim. Um milagre apenas É. Embora possa ser percebido pelos nossos sentidos no espaço-tempo, um milagre não está preso às essas dimensões. Está além delas. Permanece no Agora Eterno. Encanta-nos de tal maneira, que somos incapazes de suportar tamanha energia e luminosidade. Nossa mente não suporta essa condição e aí não prestamos atenção neles. A pior coisa que pode nos acontecer é acostumarmos com os acontecimentos que são milagres e, então não os reconhecer. E como a nossa vida está cheia desses milagres! Experimente ficar prestando atenção nos olhos de uma mãe quando recebe o seu bebê na sala de partos. É tamanha alegria que você não consegue ficar em silêncio e focado nesse olhar. Sua mente logo inventa alguma coisa para falar e desvia o seu olhar. Aquele instante em que o olhar do bebê encontra pela primeira vez os olhos da mãe é um milagre. Não pode ser descrito, não pode ser verbalizado. Nossa razão fica paralitica. Nem mesmo a poesia ousa expressar esse acontecimento. Resta-nos apenas o silêncio, a contemplação. O mesmo acontece quando ouvimos o grito de dor de uma mãe, que perde um filho num acidente, ecoando pelos corredores da Emergência de um hospital. O som do grito que estamos escutando é um milagre. O milagre da vida que terá de seguir em frente além da própria vida. Outra vez nossa mente não suporta e desvia nossos pensamentos, nos faz procurar justificativas, mas novamente nos restam apenas o silêncio e a contemplação, portanto, milagre. E é em momentos como este que descobrimos que milagres também acontecem em meio às Sombras. Na verdade, nascimento e morte são gêmeos siameses com um coração único. São inseparáveis. Se pensarmos bem, vivemos permanentemente no ciclo do nascer-morrer. A cada instante morremos e nascemos seja para as pessoas, idéias e até para as coisas mais triviais. E, é nesse intervalo entre aquilo que morre e aquilo que nasce que acontece o milagre. É assim no instante em que se vê o olhar do bebê encontrando a mãe, é assim no momento em que se ouve o grito no corredor do hospital. E é assim com tudo na vida desde os momentos que nos mobilizam mais como o nascimento e a morte até as coisas mais simples. Os intervalos estão repletos de milagres. Observe um beija- flor no intervalo em ele pára diante da flor escolhida, mas ainda não a beijou. Não dá para descrever a cumplicidade do beija-flor com a flor. É um milagre. Se tiver observando o pôr do sol numa praia, naquele último instante em morre o dia e nasce a noite também lhe restará apenas contemplar porque outra vez sua mente terá que se calar. É mais um milagre. Os milagres como já disse acontecem nos intervalos, de tudo, de todos. Milagre é aquilo que conecta tudo. Por isso todo milagre é eterno. É deles que é feita a eternidade para a qual voltaremos depois destas jornadas pelo espaço- tempo.
Permita-me ir um pouco além. Nós, homens e mulheres, somos feitos do pó das estrelas. Percorremos esses universos todos e, então, Deus vendo toda a nossa persistência, resolveu nos dar um milagre único de presente. Algo que nem mesmo os anjos e arcanjos teriam. E, então, nos foi dado a possibilidade de sorrir. E o sorriso nada mais é que um enorme intervalo. O sorriso é um dos poucos milagres que pode ser repetido. Não é por acaso que a Monalisa é a obra de arte mais famosa do mundo. Leonardo conseguiu pintar um milagre! Na pintura, o sorriso da Monalisa não está no começo nem no fim. Ele permanece sempre no agora. Por isto que Leonardo da Vinci é um gênio. Mas, não nos esqueçamos que Deus é brasileiro. Essa coisa que Deus é Pura Energia é coisa de gente esquisita. Se a voz do povo é voz de Deus e povo diz que Deus é brasileiro então nem Jean Yves Leloup e o Leonardo Boff juntos vão me convencer do contrário. Deus é brasileiro e ponto final nessas discussões teológicas! E como bom brasileiro, Deus deu um jeitinho de repetir o milagre que fez com Lao-Tzu. Dizem que Lao-Tzu nasceu rindo, que ele era capaz de rir às gargalhadas. Assim também Deus fez nascer uma brasileira lá no Piauí. As crianças choram quando nascem. Ela, porém como Lao-Tzu nasceu rindo. E como ele, ela também é meio esquisita. Há quem diga que ela, por ser jardineira, é capaz de conversar com as flores. Mas, isto é conversa fiada. Flor não conversa com mulher. Flor só fala com homem porque só homem tem “anima”. Ela fala mesmo é com bicho. Garantiram-me que ela conversa com os beija-flores. Um deles tem até nome de gente; chama-se Pierre. Nisto eu acredito até porque ele não desgruda dela. Às vezes fica tão colado nela que atrapalha. O bonito é que quando ela ri, ele também ri... Acho que a tal mulher é milagreira mesmo. Ela é capaz de reunir retalhos de coração e tecer um patchwork de amor. Ainda bem que ela se mudou para Brasília. Aquela gente lá do nordeste adora um santo. Se tivesse ficado no Piauí talvez tivesse virado santa da mesma categoria de padre Cícero. Hoje ela mora numa tal Cidade da Paz.
Se você não acredita nesta história, talvez você seja uma daquelas pessoas que não acreditam em milagres. Agora se você não sabe onde fica a Cidade da Paz, você é ignorante mesmo (sem ofensa; ignorante no sentido de desconhecer).Ou ainda, na melhor das hipóteses, você não teve o privilégio de conhecer a Lydia Rebouças. Se você a encontrar por aí, não se assuste com o Beija-flor. Faça apenas como ele: Sorria ,ria, ria, ria...E outra vez o milagre se repetirá!
Um sorriso no seu coração,
Seminário A Arte de Viver a Vida, 19-20/fevereiro/2010
* Neil Riani é Aprendiz da Unipaz –Vale, turma 3
